terça-feira, 23 de novembro de 2010

Porque EU?

E porque NÃO eu?

A gente tem como hábito na dor, questionar e sempre perguntar "Porque aconteceu comigo?"
É claro que isso passou pela minha cabeça, afinal, era a segunda vez que a gravidez não ia pra frente...mas isso durou ,sei lá , 2 segundos...

A questão é que quando engravidei do Pedro me lembrei de uma vez ter rezado e pedido à Deus que me desse um filho, que eu aceitaria o espírito que ele mandasse, que aceitaria a decisão dele e quando tudo aconteceu, lembrei do meu pedido. E fiquei feliz. Feliz porque fui atendida e pude ajudar que esse espírito cumprisse a sua missão.

A vinda do Pedro e sua passagem curta na terra foi transformadora na minha vida. Pode parecer cedo demais pra dizer, mas sou outra pessoa.

Passei a ver que tinha picuínhas, pensamentos babacas e me importava com coisas infinitamente sem importância, gastando meu tempo e minha energia com o que tinha de mais pequeno e sem relevância.

Estou totalmente resignada, aceitando a minha história e o que a vida me dá. Tive que passar por essa provação? Então bora lá passar da maneira mais fácil que é aceitando .

Dói muito e vai doer pra sempre como já disse, mas é uma dor de saudade. Fui mãe mas não vivi a maternidade e é isso que dó, a saudade do que AINDA não vivi.    
  

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Marido

E depois de tudo o que aconteceu, estava faltando aqui um beijo especial...

O beijo especial  vai para quem ficou do meu lado acordado durante toda a noite, dirigiu como louco até o hospital, revirou o mundo procurando o médico, resolveu toda a burocracia de internação-cartório-cemitério, segurou minha mão e enxugou minhas lágrimas na UTI, fez meus curativos e sem medo algum, me dá força pra tentar de novo e seguir em frente. Meu marido.

Meu amor, todas as palavras do mundo são poucas e não conseguem expressar todo o amor e principalmente todo o orgulho que sinto por você. Você é meu chão, meu ar, o grande presente que a vida me deu.

Te amo. Daqui até a Lua.   

O que aconteceu?

Fizemos a biópsia da placenta.

Resultado: Corioamnionite aguda acentuada e Funisite aguda moderada.

A corioamnionite é a infecção mais comum da placenta e decorre da ruptura precoce da bolsa amniótica, que contém o feto. A ruptura leva à perda do líquido amniótico (relatada pela paciente) e permite a entrada de bactérias na cavidade amniótica, provenientes da vagina. Isto causa uma infecção aguda do âmnio (membrana fina revestida por epitélio cúbico) e do cório (tecido conjuntivo vascularizado), ambos de origem fetal, resultando em exsudato purulento que recobre a face fetal da placenta e o cordão umbilical.

Tanto cuidade com limpeza, alimentação, controle com exames semanas e uma infecção.

NÃO TEMOS CONTROLE DA VIDA.

Voltei ao médico para tirar os pontos dia 11/11 e ele me liberou pra tentar de novo em Janeiro. Chorei de tanta felicidade.

A maioria dos médicos dão um tempo maior para as tentativas, mas o meu não. Falou que estou bem, que meu útero está limpo e pronto.
Volto no médico dia 09/12 e faremos toooodos os exames antes.

Seria natural que eu estivesse morrendo de medo, fragilizada. Mas não. Eu e marido estamos tranquilos e ansiosos.

Que venha Janeiro. Que volte o nosso amor.

01/11

Em junho desse ano, depois de alguns testes de farmácia e alguns betas (que subiam lindamente e dobravam a cada dois dias, ufa!) estava confirmado: Gravidíssima!

Felicidade!!! Felicidade!!! Felicidade!!!

Início do pré-natal, ultras, exames de sangue, ansiedade pra saber o sexo, começo do enxoval, nada de sustos, felicidade, ultras, exames de sangue, sonhos, alegria, falar para os amigos, contar para a família, nada de dor, exames, comprar roupinhas, enjoos, ser mimada, sonhar, sonhar, sonharrrr....

Tudo lindo. Com 16 semanas, descobri que o Pedro morava aqui no forninho. Um Molequeeeee!!!! Acho que o dia que descobri que era menino foi o mais lindo de todos. Claro que descobrir a gravidez é mágico, mas saber o sexo deu uma outra dimensão a tudo. Não tinha preferência de sexo, nem eu e nem o marido mas a partir daquele dia, podíamos chamar o bebê, o embutido, a bolotinha, o biscoitinho pelo nome .E isso era muito bom.

Então fomos muito felizes. Fomos, porque com 23 semanas tudo acabou.

No sábado, dia 30/10 fui fazer mais uma das 1.4529.785 ultras. Tudo lindo, Pedro crescedo, placenta certinha, batimentos ok. Saí da Ultra e fui na Abracadabra escolher o berço, carrinho e outras coisinhas. Tudo escolhido, orçamentos em mãos. Almoçamos e fomos pra casa.

Comecei a sentir um desconforto na coluna, o que era normal. Minha barriga já estava grandinha e como tinha andado um pouco, era só descansar que estaria tudo certo.

Não, não estava tudo certo. O desconforto continuou a noite de sábado. Domingo a mesma coisa. Começei na sentir umas dores estranhas, tipo cólica.

Decidimos ir para emergência do hospital. Buscopan e soro na veia. Exame de urina. A Dor melhorou um pouco mas no exame apareceu uma leve infecção urinária. Antiinflamatório e Dactil OB e volto pra casa. Isso eram 17hrs.

Ligo para o médico e não consigo falar. Em casa, deito e rezo pra chegar segunda, dia que já tinha consulta marcada.

Começo a sentir uma dor estranha. Parece cólica. Parece dor no rim. Parece, parece , parece....
Era contração. Noite em claro,começei a monitorar a duração e o intervalo da dor. Contraçãooooooo!!!!

5 horas da manhã. Deitada, escuto um barulho de estouro. A bolsa estourou. Jorra água pela casa. Corre para o banheiro. Coloco um vestido qualquer e voo para o hospital.

Desespero. dor. uma vontado incontrolável de empurrar o neném . Meu médico chega. Corre pro centro cirurgico.
.....
Dia 01/11, as 7:50hrs ,com 23 semanas, 570grs. e 29cm. O Pedro nasceu.
.....
Dor. Dor. Dor. Dor.

Fui para o quarto e a noite fui na UTI ver meu filho. De mãos dadas com meu marido fui ver o amor da minha vida. Ali eu já sabia.

Tive alta dia 03/11 e a noite voltei para visita-lo. Dor, dor, dor, dor....
Dia 04, as 11 da manhã meu marido recebe uma ligação do hospital. Era para irmos correndo pra lá.

O pulmão dele até estava lutando, o que geralmente num prematuro é o primeiro órgão a dar problema, mas o rim dele teve uma alta de potássio e não conseguiu.

Dor, dor, dor, dor... Nunca pensei na minha vida que fosse passar por isso. Enterrei meu filho.

Entrei no cemitério, de mãos dadas com meu marido carregando o caixão do nosso filho.

Em nenhum momento senti revolta ou questionei . Só tinha Dor, dor, dor, dor...

Dilacerante, arrasador, massacrante.

Aquela noite não dormi. E acho que até agora não dormi.

Só sinto saudade. Muita. Saudade do que vivi com ele na minha barriga e do que ia viver quando ele estivesse em meus braços.

Ver sair leite dos meus seios e não amamenta-lo é a segunda coisa mais dolorosa do mundo.

Mas sou grata à Deus. Muito. Pelo tempo que ele passou dentro de mim e por saber que fui escolhida para que esse espírito terminasse a missão que deveria cumprir.

Tenho a certeza dentro do meu coração que ele vai voltar. Certeza. Certeza.

Hoje fazem só 22 dias que tudo aconteceu. E dói. E vai doer pra sempre, mas a cada dia aprendo a viver com a dor. Na verdade, tô aprendendo a viver com a saudade.

"Pedro, meu amor, meu coração é seu. minha alma é sua e meu corpo também. Fico aqui esperando você voltar. Beijo da mamãe. "

Senta que lá vem história....

Sou casada a 5 anos e a 4 tento engravidar...
Quando começei as tentativas, nunca me passou pela cabeça que essa estrada seria longa e com muuuuita dor.

Nos primeiros dois anos, minha menstruação sempre atrasava e eu era praticamente a patrocinadora oficial dos testes de farmácia. Perdi as contas de quantos testes eu fiz na esperança de ver aquelas duas listrinhas. Achava até que era mais fácil ganhar na mega sena.
Começei a luta de achar um bom médico ginecologista (como foi difícil!) pra entender o que estava acontecendo. Achei o médico perfeito (Um Viva para o Dr. Luiz Antônio!) e começei os exames.

Descobri a SOP (Síndrome dos ovários pocilisticos) e uma das trompas obstruídas. Ou seja, sem ovular e com a trompa obstruída , só se meu filho fosse o Macgyver!

Então, vamos ao tratamento. Em setembro de 2009 fiz uma videolaparoscopia para desobstruir a trompa e limpar os ovários. A operação foi um sucesso e bora lá para os treinos.

Em Janeiro desse ano vi as duas listrinhas no teste e tremi como vara verde. Ri, chorei, agradeci à Deus, Alá, Buda, os Astros, enfim....foi a felicidade. Então no dia seguinte fiz o Beta e Confirmado. 3 dias depois começei a sangrar...tensão. Repete o beta. Valor subindo mas sem dobrar como deveria dobrar a cada 2 dias.

Como eu já era praticamente uma ginecologista formada pelo Google, sabia que tinha alguma coisa estranha. E sangra, e repete o beta que crescia mas não dobrava.

Faz ultra, nada vê. Faz outra ultra e nada vê. E assim fiquei também sócia da clínica de ultra. 6 Ultras depois e a desconfiança. Gravidez Ectópica.

Corre e faz uma ressonancia magnetica. Confirmado. Gravidez Ectópica.
Mas como, Meu Deus, se eu fiz a cirurgia e desobstrui as trompas? Sem explicações. E foi a partir daí que começei a aprender que NÃO TENHO CONTROLE NENHUM DA VIDA.

No meio de toda a tristeza do mundo, corre pra internação. Fiz uma cesárea para tirar o feto. Acordei no final da cirurgia e não sei como, tive sangue frio e pedi pra ver o embrião. Acho que queria ver para acreditar, sei lá. E vi. Era uma bolinha dentro de uma bolsa de sangue. Apaguei de novo.

Meu médico me pediu 3 meses pra tentar de novo. E eu engravidei de novo. Mas o "final" feliz ainda não veio.